sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A garotinha ruiva

       Ah, a garotinha ruiva, a garotinha ruiva. Ela gosta de flores amarelas, tapetes macios e de ouvir uma vozinha aguda gritar repetidamente: ruiva ruiva ruiva. Ah, a garotinha ruiva, como ela gostado jeito que as bochechas sorriem. Ela irá te dizer, que odeia cosquinhas, mas não, não deixe a garotinha ruiva te enganar. Ela gosta, ela gosta, gosta de pessoas com chapéus grandes, narizes grandes. Ela gosta de fazer dançar os dedos do seu pé.
        Ah, a garotinha ruiva, de novo ela tentará te enganar, dizendo que não gosta de lembrar. Ela gosta de água, ela gosta de fogo. Ela gosta de andar descalça na rua depois de um dia de chuva. Ela gosta de janelas, ela ama janelas. Ela gosta de olhos, grandes, pequenos, fechados, abertos, claros, escuros, ela gosta de olhos que sorriem. Ela gosta do vento
         Ah, ela é a garotinha ruiva, a garotinha ruiva. Ela não gosta quando a mandam falar baixo, ou quando não sorriem de volta. Mas como ela gosta de telhados. Poderia passar dias no telhado, só olhando, sentindo e pensando. Ela gosta de comer a massa do bolo crua, e andar com pares de meias diferentes. Ela gosta do seu cabelo no vento, e de de repente sentar no chão da rua porque quer ouvir uma história. Ah, como ela gosta de histórias, das que fazem rir, das que fazer chorar, ela só gosta, gosta de histórias. Ela gosta da água fria, da areia quente e sol ardente. Ela gosta de dançar, na rua, de preferência.
          Ah, a garotinha ruiva, ela gosta de gritar, ah como ela gosta de gritar. Ela acredita em fadas, e um dia ainda para de roer unha. Ela gosta de sentir o sol forte, queimando em seus cabelos vermelhos. Ela gosta de correr, rápido, forte, para longe. Ela não gosta de cortinas.
Hm Hm, a garotinha ruiva. Ela gosta de barbas brancas e gorros de todos os tipos. Gosta de olhos piscando e da chuva caindo. Ah como gosta, como gosta de comer, e de tinta pra todos os lados. Como ela gosta, como ela de sorrir para sol.



(Tena: Lista)

domingo, 21 de outubro de 2012

Talvez,

- Olá.
- Talvez não devêssemos nos falar.
- Talvez não seja isso que queremos.
- Talvez esse seja o melhor.
- Talvez nunca soubemos qual era o melhor.
- Talvez agora não tenha mais volta.
- Talvez não seja necessário ter uma volta, mas sim uma continuação.
- Talvez isso me assuste.
- Talvez seja bom se assustar.
- Talvez seja melhor cada um continuar seu caminho.
- Mas talvez eu sinta saudades.
- Talvez fosse melhor não sentir.
- Talvez não sejamos nos que escolhemos isso.
- Talvez, mas podemos fingir que sim.
- Talvez fingir machuque.
- Talvez eu já tenha me acostumado.
- Talvez você lembre das nossas risadas de antes.
- Talvez eu nunca mais tenha rido igual.
- Talvez isso nos fazia felizes.
- Talvez eu esteja precisando de um cigarro.
- Talvez essa sempre foi sua fuga.
- Talvez eu deva entrar nesse ônibus.
- Talvez não seja isso que você queira.
      Sua cabeça se abaixou devagar, suas bochechas coraram, seus olhos brilharam, seu sorriso sorriu.
- Talvez amanhã chova.
- O que isso pode ter haver?
- Que eu talvez eu tenha que colocar as galochas azuis que você me deu, porque não gostava do meu tênis, e ir pegar o meu guarda-chuva amarelo que está na sua casa.


(Tema: Extra)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Uma crônica no alto da estante.

     Eu queria fazer, faze-la, a mais bonita, a mais emocionante crônica. A crônica que amolecesse, o coração mais duro, abrisse, a cabeça mais fechada, fizesse cosquinhas nos lábios mais sérios e molhassem de leve, os olhos mais secos. 
     Queria fazer, todos que a lessem entenderem. Entenderam tudo, tudo que eu quero dizer, ao mesmo tempo, que teriam aquela dúvida, a dúvida que os cercaria para sempre, nunca os deixando esquecer. Eu queria uma crônica eterna. Que se passassem horas, dias, meses e anos, e ela esteja lá. Mas não lá, em um canto empoeirado, mas sim talvez, no alto de uma estante escondida. E quando se esquecerem, subam em um banquinho, façam pontas de pés e estendam com força seus braços, e lá a acharam, e quando a lerem, vão lembrar. 
     Queria fazer uma uma crônica, que voltasse no tempo, voltassem para aqueles três dias. Que trouxesse de volta, os sonhos, os sorrisos, a alegria, daqueles três dias. Algo, que conseguisse preencher minimamente o vazio que existe agora, a saudade que existe agora. 
     Queria na verdade, que essa crônica fosse um tempo. Um tempo para fechar os olhos, deitar a cabeça no vento, e deixar as lembranças dançarem nos nossos pensamentos. 
     Escolham a qual ritmo você quer que elas dancem. Na minha, elas estão dançando, na pousada do Jabaquara, em Paraty, onde um sonho, acabava de começar. Onde um coração duro, amoleceu, a cabeça mais fechada, se abriu, os lábios mais sérios, se contraiam ao sentir cosquinhas e os olhos mais secos, estavam molhados.
        



(Tema: Paraty)

sábado, 15 de setembro de 2012

Sem pressa, por favor.

      Ela pingava rápido. Graças a sua velocidade, não pingava, escorria rápido daquela tela laranja que cobria a escuna, escorria rápido de encontro com o chão. Pare, pare de escorrer tão rápido, pra que essa pressa? Tudo o que menos precisamos agora é pressa. Não percebe que a água já está no fim? Que uma hora ela ira acabar, e estará num ônibus voltando para São Paulo?
       Tudo o que eu queria naquela hora, é que ela parasse. Parasse naquele mesmo segundo. E se pudesse viver tudo de novo. Que pudessemos sentar todos juntos, e esperar o sol abrir, com um sorriso nos olhos. Mas aquela água não me entendia, não parava de escorrer, com aquela pressa compreensiva. 
        Tudo se baseava em questão de segundos. Não podia, não podia acabar. Por favor, por favor, alguém fala pra ela parar de escorrer, alguém diz, que não podemos ter pressa agora. 




(Tema: Paraty)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Segunda porta a direita.

      Era uma vez um lugar. No final do corredor, segunda porta a direita. Parabéns! Você chegou. Era uma vez um quarto, só um quarto.
      Ao lado da janela, sempre ao lado da janela. Subindo por uma escada, você chegava lá, ao portador de sonhos, aquele que te acolhe de noite, conhecido por mentes inferiores como cama, mas não, não é só uma cama. De uma madeira clara, agora completamente coberto de adesivos. No outro extremo dela, um escorredador, que fazia todos os sonhos que você tinha lá em cima, descerem de leve com você.
       Em baixo de tudo, eles descansavam. Descansavam das inúmeras festas e folias, que faziam quando eu não estava, não sei porque nunca fizeram na minha frente, será que achavam que eu ficaria zangada? Diria que bichinhos de pelúcia não podiam ficar acordados até tarde? Bom, se achavam, estavam enganados, pois toda vez que eu abria aquela porta, a direita, no final do corredor, sonhava que pegassem eles nos flagra, fazendo a maior festa já vista, e tomassem um susto quando me vissem, mas logo eu começaria a rir, e eles veriam que está tudo bem. Então, eles colocariam um colar havaiano em mim, e eu entraria na festa.
         Tudo era possível lá dentro. Fico brava quando dizem que é um quarto. Não é um quarto, é um lugar mágico, todos os lugares do mundo se juntam lá dentro, pode ser uma praia, um deserto. Ele é exatamente o que você precisa naquela hora.
         


(Tema: Crônica de recuperação)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

DANCE

       Seus olhos estavam molhados, muito molhados. Não paravam de produzir e produzir lagrimas. Aqueles olhos tão negros, tão grandes, brilhavam com o reflexo daquele poste de luz que agia como um olofote sobre ela. Seus olhos ficavam tão bonitos quando choravam. Parecia que toda aquela vida que tinha em seus rosto, se encontravam lá, naqueles olhos, tão negros tão grandes.
       Ao lado dela, três mentes curiosas tentavam entender, tentavam falar, tentavam ajudar. Pobres mentes, ela não precisava de palavras, não precisava que a entendessem. Entendi na primeira vez que ela abrira a boca. Seus olhos, tão negros, tão grandes, pediam uma surpresa, algo que a fizesse acreditar, que não estava tudo perdido, eles imploravam, imploravam que a surpreendessem.
       Com um movimento lento, tirei meus sapatos, e meias azuis. O chão estava frio, ele me confortava, me dava sensação de liberdade. Tirei meu casaco, o vento era gelado. Ainda não era o suficiente. Abri o ziper da mala, em alguns estantes, tudo estava espalhado, pelo chão frio da calçada. Bom, acho que era o suficiente.
        Me ajoelhei no chão, e comecei a arruma-las. Algumas perguntas surgiram em volta, mas me limitei a responder, não era para aquilo perder a magia da supresa. Daquelas coisas espalhadas no chão começaram a surgir letras, e se contorcendo de leve em palavras. Logo estava pronto, a afora aquelas quatro mentes curiosas liam no chão, com aquelas letras diferentes, coloridas: DANCE
         Eu vi aqueles quatro pares de olhos, se contorcendo, com tons de duvidas e grandes alivios. Se levantaram, ainda duvidosos, seguiram meu exemplo, fecharam os olhos e se entregaram, ao vento frio da noite, e seguiram a ordem escrita no chão.
         Lá estavam, pessoas, leves e soltas, dançando, na calçada, todos, simplesmente, para fazerem aqueles olhos tão negros, tão grandes, devolverem a vida, à aquele rosto molhado e vermelho. E logo ela se entregava também. Ela dançava também. Ela sorria também.




(Tema: Unidade)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Faixas brancas desbotadas


     Ela estava lá, apoiada no poste daquela esquina gelada, seu olhar, era completamente fixo na rua onde havia uma faixa de pedestre com suas faixas brancas, já levemente desbotadas. Ela estava lá, com suas roupas curtas, vermelhas e apertadas.
     Aquela noite estava fria, realmente, um frio, fino e cortante, que passa rápido e certeiro, abrindo cortes finos que sangram muito. Nenhum ser humano conseguiria sentir algo bom aquela noite, pois logo, esse frio onde o vento vem com lâminas finas, cortaria tudo que pudesse parecer com um sentimento, bem do início.
     Mas a ela, aquele vento não parecia atingir, como se não houvesse nada nela que pudesse ser cortado. Ela não me parecia feliz, nem muito menos triste. Seu rosto me trazia uma imagem de simplismente, conformação. Conformada com sua noite, com seus dias, seu cotidiano. Parecia conformada, com o fato de se limitar a sentir.
      Olhando nos seus olhos, foi isso que eu vi. Ela havia se limitado a sentir qualquer coisa, pois sabia que por mais que sentisse, aquele vento fino e frio, cortante de rápido, viria de novo, e acabaria com tudo que estivesse prestes a nascer.
      Então de repente, um carro escuro, que se mesclava com a noite, ocupava aquele lugar, onde antes eram algumas faixas brancas desbotadas.
      Sem modificar uma expressão do seu rosto, ia levantando a cabeça devagar, dando um suspiro discreto, e logo, o transformando em um sorriso pela superfice, olhando a janela do carro que acabava de se abrir. Demorando alguns segundos, se desencostou do poste, abriu a porta devagar, e entrou no carro.
       Ela sabia, sabia que pelo menos estaria protegida daquele frio, por algumas horas



(Tema: Olhar pra fora)