segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Faixas brancas desbotadas


     Ela estava lá, apoiada no poste daquela esquina gelada, seu olhar, era completamente fixo na rua onde havia uma faixa de pedestre com suas faixas brancas, já levemente desbotadas. Ela estava lá, com suas roupas curtas, vermelhas e apertadas.
     Aquela noite estava fria, realmente, um frio, fino e cortante, que passa rápido e certeiro, abrindo cortes finos que sangram muito. Nenhum ser humano conseguiria sentir algo bom aquela noite, pois logo, esse frio onde o vento vem com lâminas finas, cortaria tudo que pudesse parecer com um sentimento, bem do início.
     Mas a ela, aquele vento não parecia atingir, como se não houvesse nada nela que pudesse ser cortado. Ela não me parecia feliz, nem muito menos triste. Seu rosto me trazia uma imagem de simplismente, conformação. Conformada com sua noite, com seus dias, seu cotidiano. Parecia conformada, com o fato de se limitar a sentir.
      Olhando nos seus olhos, foi isso que eu vi. Ela havia se limitado a sentir qualquer coisa, pois sabia que por mais que sentisse, aquele vento fino e frio, cortante de rápido, viria de novo, e acabaria com tudo que estivesse prestes a nascer.
      Então de repente, um carro escuro, que se mesclava com a noite, ocupava aquele lugar, onde antes eram algumas faixas brancas desbotadas.
      Sem modificar uma expressão do seu rosto, ia levantando a cabeça devagar, dando um suspiro discreto, e logo, o transformando em um sorriso pela superfice, olhando a janela do carro que acabava de se abrir. Demorando alguns segundos, se desencostou do poste, abriu a porta devagar, e entrou no carro.
       Ela sabia, sabia que pelo menos estaria protegida daquele frio, por algumas horas



(Tema: Olhar pra fora)