sábado, 15 de setembro de 2012

Sem pressa, por favor.

      Ela pingava rápido. Graças a sua velocidade, não pingava, escorria rápido daquela tela laranja que cobria a escuna, escorria rápido de encontro com o chão. Pare, pare de escorrer tão rápido, pra que essa pressa? Tudo o que menos precisamos agora é pressa. Não percebe que a água já está no fim? Que uma hora ela ira acabar, e estará num ônibus voltando para São Paulo?
       Tudo o que eu queria naquela hora, é que ela parasse. Parasse naquele mesmo segundo. E se pudesse viver tudo de novo. Que pudessemos sentar todos juntos, e esperar o sol abrir, com um sorriso nos olhos. Mas aquela água não me entendia, não parava de escorrer, com aquela pressa compreensiva. 
        Tudo se baseava em questão de segundos. Não podia, não podia acabar. Por favor, por favor, alguém fala pra ela parar de escorrer, alguém diz, que não podemos ter pressa agora. 




(Tema: Paraty)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Segunda porta a direita.

      Era uma vez um lugar. No final do corredor, segunda porta a direita. Parabéns! Você chegou. Era uma vez um quarto, só um quarto.
      Ao lado da janela, sempre ao lado da janela. Subindo por uma escada, você chegava lá, ao portador de sonhos, aquele que te acolhe de noite, conhecido por mentes inferiores como cama, mas não, não é só uma cama. De uma madeira clara, agora completamente coberto de adesivos. No outro extremo dela, um escorredador, que fazia todos os sonhos que você tinha lá em cima, descerem de leve com você.
       Em baixo de tudo, eles descansavam. Descansavam das inúmeras festas e folias, que faziam quando eu não estava, não sei porque nunca fizeram na minha frente, será que achavam que eu ficaria zangada? Diria que bichinhos de pelúcia não podiam ficar acordados até tarde? Bom, se achavam, estavam enganados, pois toda vez que eu abria aquela porta, a direita, no final do corredor, sonhava que pegassem eles nos flagra, fazendo a maior festa já vista, e tomassem um susto quando me vissem, mas logo eu começaria a rir, e eles veriam que está tudo bem. Então, eles colocariam um colar havaiano em mim, e eu entraria na festa.
         Tudo era possível lá dentro. Fico brava quando dizem que é um quarto. Não é um quarto, é um lugar mágico, todos os lugares do mundo se juntam lá dentro, pode ser uma praia, um deserto. Ele é exatamente o que você precisa naquela hora.
         


(Tema: Crônica de recuperação)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

DANCE

       Seus olhos estavam molhados, muito molhados. Não paravam de produzir e produzir lagrimas. Aqueles olhos tão negros, tão grandes, brilhavam com o reflexo daquele poste de luz que agia como um olofote sobre ela. Seus olhos ficavam tão bonitos quando choravam. Parecia que toda aquela vida que tinha em seus rosto, se encontravam lá, naqueles olhos, tão negros tão grandes.
       Ao lado dela, três mentes curiosas tentavam entender, tentavam falar, tentavam ajudar. Pobres mentes, ela não precisava de palavras, não precisava que a entendessem. Entendi na primeira vez que ela abrira a boca. Seus olhos, tão negros, tão grandes, pediam uma surpresa, algo que a fizesse acreditar, que não estava tudo perdido, eles imploravam, imploravam que a surpreendessem.
       Com um movimento lento, tirei meus sapatos, e meias azuis. O chão estava frio, ele me confortava, me dava sensação de liberdade. Tirei meu casaco, o vento era gelado. Ainda não era o suficiente. Abri o ziper da mala, em alguns estantes, tudo estava espalhado, pelo chão frio da calçada. Bom, acho que era o suficiente.
        Me ajoelhei no chão, e comecei a arruma-las. Algumas perguntas surgiram em volta, mas me limitei a responder, não era para aquilo perder a magia da supresa. Daquelas coisas espalhadas no chão começaram a surgir letras, e se contorcendo de leve em palavras. Logo estava pronto, a afora aquelas quatro mentes curiosas liam no chão, com aquelas letras diferentes, coloridas: DANCE
         Eu vi aqueles quatro pares de olhos, se contorcendo, com tons de duvidas e grandes alivios. Se levantaram, ainda duvidosos, seguiram meu exemplo, fecharam os olhos e se entregaram, ao vento frio da noite, e seguiram a ordem escrita no chão.
         Lá estavam, pessoas, leves e soltas, dançando, na calçada, todos, simplesmente, para fazerem aqueles olhos tão negros, tão grandes, devolverem a vida, à aquele rosto molhado e vermelho. E logo ela se entregava também. Ela dançava também. Ela sorria também.




(Tema: Unidade)