domingo, 21 de outubro de 2012

Talvez,

- Olá.
- Talvez não devêssemos nos falar.
- Talvez não seja isso que queremos.
- Talvez esse seja o melhor.
- Talvez nunca soubemos qual era o melhor.
- Talvez agora não tenha mais volta.
- Talvez não seja necessário ter uma volta, mas sim uma continuação.
- Talvez isso me assuste.
- Talvez seja bom se assustar.
- Talvez seja melhor cada um continuar seu caminho.
- Mas talvez eu sinta saudades.
- Talvez fosse melhor não sentir.
- Talvez não sejamos nos que escolhemos isso.
- Talvez, mas podemos fingir que sim.
- Talvez fingir machuque.
- Talvez eu já tenha me acostumado.
- Talvez você lembre das nossas risadas de antes.
- Talvez eu nunca mais tenha rido igual.
- Talvez isso nos fazia felizes.
- Talvez eu esteja precisando de um cigarro.
- Talvez essa sempre foi sua fuga.
- Talvez eu deva entrar nesse ônibus.
- Talvez não seja isso que você queira.
      Sua cabeça se abaixou devagar, suas bochechas coraram, seus olhos brilharam, seu sorriso sorriu.
- Talvez amanhã chova.
- O que isso pode ter haver?
- Que eu talvez eu tenha que colocar as galochas azuis que você me deu, porque não gostava do meu tênis, e ir pegar o meu guarda-chuva amarelo que está na sua casa.


(Tema: Extra)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Uma crônica no alto da estante.

     Eu queria fazer, faze-la, a mais bonita, a mais emocionante crônica. A crônica que amolecesse, o coração mais duro, abrisse, a cabeça mais fechada, fizesse cosquinhas nos lábios mais sérios e molhassem de leve, os olhos mais secos. 
     Queria fazer, todos que a lessem entenderem. Entenderam tudo, tudo que eu quero dizer, ao mesmo tempo, que teriam aquela dúvida, a dúvida que os cercaria para sempre, nunca os deixando esquecer. Eu queria uma crônica eterna. Que se passassem horas, dias, meses e anos, e ela esteja lá. Mas não lá, em um canto empoeirado, mas sim talvez, no alto de uma estante escondida. E quando se esquecerem, subam em um banquinho, façam pontas de pés e estendam com força seus braços, e lá a acharam, e quando a lerem, vão lembrar. 
     Queria fazer uma uma crônica, que voltasse no tempo, voltassem para aqueles três dias. Que trouxesse de volta, os sonhos, os sorrisos, a alegria, daqueles três dias. Algo, que conseguisse preencher minimamente o vazio que existe agora, a saudade que existe agora. 
     Queria na verdade, que essa crônica fosse um tempo. Um tempo para fechar os olhos, deitar a cabeça no vento, e deixar as lembranças dançarem nos nossos pensamentos. 
     Escolham a qual ritmo você quer que elas dancem. Na minha, elas estão dançando, na pousada do Jabaquara, em Paraty, onde um sonho, acabava de começar. Onde um coração duro, amoleceu, a cabeça mais fechada, se abriu, os lábios mais sérios, se contraiam ao sentir cosquinhas e os olhos mais secos, estavam molhados.
        



(Tema: Paraty)